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1ª Visita Técnica (13 out 2023)

Equipa do Projeto Bem Comum nas aldeias de Fafião e Pincães

O projeto Bem Comum realizou no dia 13 de outubro de 2023 a sua primeira visita técnica, com os objetivos de (i) proporcionar o encontro entre toda a equipa; (ii) conhecer o território e as comunidades locais com baldios; e (iii) identificar e refletir sobre boas práticas ambientais, silvícolas, agrícolas, sociais e económicas na governança comunitária de baldios. A visita decorreu na freguesia de Cabril, nas aldeias de Fafião e Pincães, numa organização conjunta do Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês, da BALADI – Federação Nacional dos Baldios e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESA-IPVC).


Fotografia de GrupoEstiveram presentes 27 participantes, representando todas as entidades que integram a parceria do projeto: ESA-IPVC; Comunidade Intermunicipal do Alto Minho; Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte; Associação Regional de Desenvolvimento do Alto Minho; Federação Nacional de Baldios / Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês; Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca; Associação Florestal Atlântica; CERNA; Explore Iberia; Keen Tours e Dinamo10, e ainda a Agência Regional de Energia e Ambiente do Alto Minho. O acolhimento foi proporcionado pela Associação Organizadora dos Compartes do Baldio de Pincães, na sua sede.


O presidente do Conselho Diretivo da Comunidade Local dos Baldios de Pincães, referiu algumas atividades desenvolvidas por esta comunidade local (gestão do badio, incluindo ações de reflorestação, limpeza da floresta e de caminhos, e atividades com a comunidade ligadas às tradições agrárias). Além da Desfolhada Comunitária, destacou a Festa do Azeite, associada à tradição de apanha da azeitona e produção de azeite num dos lagares comunitários de Pincães. De referir que a Vezeira de Gado se mantém ativa, com pastoreio envolvendo produtores pecuários e baldios das várias aldeias da freguesia. A manutenção das tradições junto dos mais novos é um dos objetivos desta comunidade.

 
Desfolhada comunitária e Festa do Azeite em Pincães.
Créditos das fotografias: Câmara Municipal de Montalegre, 2016



Ecomuseu do Barroso

O Pólo do Ecomuseu do Barroso em Fafião tem como principal objetivo promover o turismo sustentável na Aldeia de Fafião, atualmente designada como "Aldeia de Lobos”. Desempenha ainda um papel social importante, disponibilizando à comunidade local múltiplos serviços de proximidade (facilitação de processos ligados ao registo civil, pagamentos e contratos de fornecimento de energia, finanças, comunicações, abastecimento por farmácia, entre outros).

A Associação Vezeira de Fafião foi criada com o objetivo de dinamizar a Aldeia de Fafião, preservar o seu património imaterial, nomeadamente as suas tradições, como as Vezeiras. Em 2019, a Vezeira da Rês estava praticamente extinta, de forma garantir a  sua permanência e combater a extinção da cabra bravia, a associação adquiriu um rebanho de cabras bravias e contratou um pastor. Atualmente, a Vezeira da Rês tem 200 cabras. Em consonância com objetivo "turismo sustentável para a Aldeia de Fafião”, a Associação Vezeira de Fafião, ao longo dos tempos e em parceria com os baldios, tem desenvolvido atividades de promoção da aldeia, integrando a comunidade local e as suas tradições. Destacam-se o  Festival Aldeia dos Lobos, o Trilho do Medronheiro, a Festa do Porco e Fumeiro, Limpeza dos Currais, entre outras. Evitar o turismo de massas e os seus problemas é um dos desafios, numa gestão adaptativa que vai sendo decidida tendo em vista a qualidade de vida de quem vive na aldeia, a preservação da autenticidade e a sustentabilidade do turismo.  Os objetivos do Ecomuseu e da Associação têm sido alcançados, segundo um dos seus sócios, constatando que a Aldeia de Fafião tem quebrado a tendência de perda populacional, com instalação de novos residentes e novos negócios, numa aliança entre atividades tradicionais e novas atividades.


Hostel Retiro do Gerês

O Hostel é composto por alojamento, com capacidade de 28 camas, loja de conveniência, restaurante e espaço exterior com piscina e parque de estacionamento privado. No espaço comercializam-se produtos locais, compotas e licores, com destaque para produtos da marca D’Fafião. Esta unidade de alojamento era antes uma albergaria familiar, e mercearia. Tendo estado alguns anos encerrada, o filho dos antigos proprietários, recuperou o espaço, qualificando-o para uma nova unidade de alojamento.


O Hostel tem tido bastante procura e, tal como o restaurante, tem funcionado todo o ano, numa dinâmica que, sendo exigente em termos empresariais e de recursos humanos,  responde ao objetivo de quebrar a sazonalidade da procura na aldeia, mantendo-a viva mesmo em época baixa.  Ao nível das dificuldades sentidas com este projeto, o proprietário destacou a sazonalidade, a dificuldade em recrutar pessoal na época alta e os problemas associados às comunicações/internet. A falta de fibra ótica na freguesia impossibilita esta empresa de responder à procura por parte dos nómadas digitais. O proprietário realça a importância fundamental dos baldios para a comunidade e para o turismo. Referiu que as empresas de animação turística contribuem financeiramente para os baldios em compensação pelo uso dos trilhos e caminhos integrados nos terrenos comunitários.  


Baldios de Pincães e Fafião

Por último, a equipa visitou uma área do baldio de Pincães, para observar os resultados de uma recente intervenção de recuperação de medronhal e pinhal, pós-incêndio. Debateu-se o tema da elegibilidade de áreas de baldio para pastoreio como sendo esta uma das dificuldades mais frequentes e considerada crítica para a manutenção da agro-silvo-pastorícia, dada a tendência para redução do reconhecimento de diversas áreas como superfície forrageira (para cálculo de encabeçamentos e de áreas de pastagem para apoios).

 Quer o baldio de Pincães, quer o de Fafião, estão certificados como áreas de produção florestal sustentável (FSC e PEFC) e primeiras áreas florestais portuguesa certificadas em serviços de ecossistema (FSC).



Nota Final

Os baldios de Pincães e de Fafião são propriedades comunitárias associadas às aldeias com o mesmo nome. Os limites deste tipo de propriedade, cuja origem se perde nos séculos, nem sempre respeitam os atuais limites administrativos das freguesias e concelhos. Daí que os dois baldios visitados, sendo de uma freguesia do concelho de Montalegre, tenham também áreas no concelho de Terras de Bouro, já no Minho. São áreas geridas pelos compartes, organizados em assembleia e em conselho diretivo.

As dinâmicas locais de gestão, uso e valorização dos baldios são de enorme importância para o bem-estar das comunidades. A sua gestão multifuncional – com usos tradicionais (em particular a agro-silvo-pastorícia e a apanha  de medronho), e mais recentes (o turismo e o lazer) – entre outros que se vão desenhando em processos participados e criativos de decisão, tem permitido recuperar a economia local e contribuir para inverter o declínio demográfico. As boas práticas ao nível da conservação da natureza e do sequestro de carbono, certificadas e tecnicamente validadas, e projetos como o apadrinhamento de cabras e a dinamização das vezeiras, permitem que os benefícios vão muito mais além, contribuindo para manter os ecossistemas em bom estado e para mitigar alguns dos problemas do Planeta que a todos nos preocupam, como a perda da biodiversidade, as alterações climáticas ou os incêndios rurais. Para o bem dos territórios rurais, para o bem comum das suas comunidades, e para o bem comum de todos.


 

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